23 de mai. de 2012

Fase Pré-analítica para Exames de Sangue

A fase imediatamente anterior à coleta de sangue para exames laboratoriais, definida na RDC n. 302 como fase que se inicia com a solicitação da análise, passando pela obtenção da amostra e finalizando quando se inicia a análise propriamente dita deve ser objeto de atenção por parte de todas as pessoas envolvidas no atendimento dos pacientes com a finalidade de se prevenir a ocorrência de falhas ou a introdução de variáveis que possam comprometer a exatidão dos resultados.
Assim, é importante entender que a fase pré-analítica necessita de implementações e cuidados na detecção, classificação e adoção de medidas para a redução das falhas. Além disso, quando buscamos especificar a qualidade de nossos sistemas analíticos, pela análise da imprecisão dos mesmos, partimos do pressuposto de que a fase pré-analítica está bem controlada, permitindo assim que os esforços, no estudo dessa imprecisão, venham contribuir para melhoria das fases seguintes, ou seja, a fase analítica e pós-analítica. É reconhecido que vários processos pré-analíticos devem ser cumpridos antes da análise das amostras. Neles, estão envolvidos os médicos solicitantes, que transmitem as orientações iniciais ao paciente, garantindo o entendimento das orientações por parte deste e sua adesão ao que foi recomendado ou solicitado. Esse aspecto pode ser melhorado pela disponibilização de instruções escritas ou verbais, em linguagem simples, orientando quanto ao preparo e cole a da amostra, tendo como objetivo facilitar o entendimento pelo paciente. Finalmente, as fases que envolvem as atividades no laboratório, como recepção, cadastro, coleta e triagem do material coletado.

Inúmeras podem ser as variáveis na fase pré-analítica que envolvem os processos no laboratório e que são responsáveis por cerca de 60% das falhas, sendo as mais evidentes:
• amostra insuficiente;
• amostra incorreta;
• amostra inadequada;
• identificação incorreta;
• problemas no acondicionamento e transporte da amostra.
É importante estarmos conscientes de que a medida dessas falhas nos diversos processos, por meio de levantamento de indicadores, pode contribuir para busca da causa e consequente melhora dos mesmos. É necessário estabelecer, em nossos protocolos de coleta, os critérios de rejeição de amostras, evitando, dessa forma, que amostras com problemas sejam analisadas, gerando um resultado que não poderá ser devidamente interpretado em virtude das restrições advindas da inadeaquação do material coletado. No entanto, é necessário atentar para o fato de que algumas amostras consideradas nobres (líquor, por exemplo) possam ser analisadas, mas que as restrições advindas do processo de obtenção destas sejam evidenciadas no resultado, como prevê a própria RDC n. 302 em seu item 4.3, no qual define o que é amostra laboratorial com restrição. Quaisquer que sejam os exames a serem realizados, é fundamental a identificação positiva do paciente e dos tubos nos quais será colocado o sangue.
Deve-se buscar uma forma de estabelecer um vínculo seguro e indissociável entre o paciente e o material colhido para que, ao final, seja garantida a rastreabilidade de todo o processo.
É indispensável que a identificação possa ser rastreada a qualquer instante do processo.
O material colhido deve ser identificado na presença do paciente. Nos sistemas manuais, isto pode ser feito pela colocação, nos tubos de coleta, de etiquetas com o nome do paciente, a data da coleta e o número sequencial de atendimento. Este número deve constar em todos os documentos, amostras, mapas de trabalho, relatórios e laudo final. Existem processos informatizados simples que geram um número pré-determinado de etiquetas, na dependência dos exames a serem realizados.
Serviços mais complexos fazem uso de etiquetas com código de barras que vinculam, de forma segura, a amostra em todas as fases do processo. Muitos dos equipamentos analíticos atualmente disponíveis conseguem identificar o paciente e reconhecer quais exames devem ser realizados naquela amostra.

Além disso, estão disponíveis no mercado equipamentos que, na fase de cadastro, geram as etiquetas e dispensam, em caixas individuais, os tubos necessários aos diferentes procedimentos e as respectivas etiquetas com códigos de barra, contribuindo, portanto, para maior segurança e rastreabilidade do processo. Um cuidado importante que os laboratórios devem ter na coleta do material do paciente é a adequada rastreabilidade dos insumos (tubos, seringas e agulhas) podendo, quando necessário, estabelecer uma ligação entre o material colhido e os lotes dos produtos utilizados no procedimento de coleta do sangue. O suprimento desses materiais pode ser controlado por meio de planilhas em que se pode anotar a data do suprimento, o lote e a validade, a fim de estabelecer um controle melhor e possibilitar, dessa forma, a investigação de falhas de fabricação do insumo e, consequentemente, falha na qualidade da amostra coletada.
O sistema de identificação adotado deve contemplar a possibilidade de geração de etiquetas adicionais, para os casos em que for necessário alíquotar a amostra original para ser enviada a diferentes áreas do laboratório, a outro laboratório ou ao armazenamento.
Recomenda-se que materiais não colhidos no laboratório sejam identificados como “amostra enviada ao laboratório”, e o laudo contenha essa informação. É importante verificar se o paciente está em condições adequadas para a coleta, especialmente no que se refere ao jejum e ao uso de eventuais medicações. Para a maioria dos exames de sangue, é necessário apenas um curto período de tempo em jejum, de 3 a 4 horas. Alguns exames requerem cuidados específicos quanto a dietas especiais, enquanto outros exigem condições peculiares, por exemplo, a necessidade de repouso antes da coleta de sangue, como exigido para a dosagem de prolactina ou de catecolaminas plasmáticas.
Nos exames de monitoração terapêutica, para permitir adequada interpretação dos resultados, algumas informações mais específicas devem ser obtidas no momento da coleta, como o horário da última medicação, bem como a dosagem e via de administração do medicamento. Dessa forma, o paciente não deve ser considerado um agente passivo do processo mas, sim, um dos integrantes da equipe. Para que possa desempenhar adequadamente essa função, ele deve receber, previamente, algumas informações referentes aos procedimentos da coleta de sangue, ao exame que será realizado e às condições nas quais ele deve se apresentar ao laboratório. De uma forma ideal, essas informações e instruções devem ser fornecidas por escrito e o paciente deve ter oportunidade de esclarecer eventuais dúvidas.
São aspectos relevantes, dentre outros, o tempo de jejum, a necessidade de abstenção de fumo e/ou álcool, o registro do uso contínuo de alguma medicação, a realização de algum procedimento diagnóstico ou terapêutico prévio. Objetivando evitar desconforto desnecessário, convém sempre informar ao paciente que a ingestão de água não interfere, não “quebra” o jejum, exceto em exames muito específicos.
Para obtenção de soro, o sangue é colhido em tubo sem anticoagulante e deixado coagular por um período de 30 a 60 minutos, à temperatura ambiente. Quando o tubo contiver gel separador, com ativador da coagulação, a espera pode ser de 30 a 45 minutos. Após este tempo, o tubo é centrifugado e a parte líquida, correspondente ao soro, é separada. O plasma é obtido pela centrifugação do sangue total anticoagulado. Quando for necessário o uso de sangue total ou plasma, utilizar anticoagulantes específicos, dependendo do exame a ser realizado.
Para alguns exames, além do anticoagulante, pode ser necessária a adição de um conservante. Cada uma destas frações do sangue se constitui na matriz ideal para a realização de exames específicos. Assim, por exemplo, para o hemograma, é utilizado sangue total, anticoagulado pela adição de ácido etilenodiaminotetraacético- EDTA; a dosagem de glicose é realizada no plasma obtido pela adição de EDTA e fluoreto de sódio e, para a dosagem de creatinina utiliza-se, em geral, soro.

Algumas substâncias podem ser dosadas tanto no soro quanto no plasma, ainda que existam diferenças entre os resultados obtidos, conforme descritos na Tabela 2.
As vantagens da utilização de plasma em relação ao soro incluem redução do tempo de espera para a coagulação, obtenção de maior volume de plasma do que de soro e ausência de interferência advinda do processo de coagulação. Os resultados são mais representativos do estudo in vivo, quando comparados aos do soro.
Há menor risco de interferência por hemólise, visto que a hemoglobina livre, em geral, está em mais baixa concentração no plasma do que no soro. As plaquetas permanecem intactas, não proporcionando pseudo-hipercalemia, como pode ocorrer no soro. Por outro lado, o plasma apresenta algumas desvantagens, como: alteração da eletroforese das proteínas, uma vez que contém fibrinogênio, que se revela como um pico na região de gamaglobulinas, podendo mascarar ou simular um componente monoclonal; potencial interferência método-dependente pelo fato de os anticoagulantes serem agentes complexantes e inibidores enzimáticos; por fim, a possibilidade de ocorrer cátioninterferência quando sais de heparina são usados, afetando, por exemplo, alguns dos métodos de dosagem de lítio e amônia.




Fonte: RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL
PARA COLETA DE SANGUE VENOSO
(2ª Edição)



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