20 de jul. de 2011

Gregor Mendel (189º Aniversário)

Os 62 anos da vida do monge austríaco Gregor Mendel (1822-1884) não poderiam ter sido mais pacatos. Estudante empenhado e muito inteligente, desde cedo dedicou seu tempo aos estudos de botânica e, mais especificamente, à análise do cruzamento de diversas espécies de plantas – feijão, chicória, plantas frutíferas e principalmente ervilhas – cultivadas na horta do mosteiro.
Foi no monastério, em 1856, que o jovem monge faria o experimento que lhe valeria o título de “pai da genética”. Munido de nada mais, nada menos do que muita curiosidade e um punhado de ervilhas, ele começou o revolucionário experimento que mudaria para sempre a biologia.
Na estufa do mosteiro, encheu várias mesas com 34 tipos de sementes de ervilha, numerando-as com sua origem e tipo, e começou a cruzá-las manualmente e anotar o que podia observar nelas. Fez isso durante anos até que, em 1865, fez uma palestra na qual apresentou pela primeira vez seus resultados. O texto terminou publicado no boletim da Sociedade de História Natural de Brünn no ano seguinte, mas ninguém prestou muita atenção a ele na época. Mendel, no entanto, havia acabado de descobrir as leis da hereditariedade.
No texto, o monge afirmava que características como a cor das flores das ervilhas e o fato de elas serem lisas ou rugosas eram controladas por fatores – que seriam batizados de genes no início do século XX – que passavam de uma geração para outra de forma independente. Exemplo: a ervilha pode ser amarela ou verde, dependendo dos fatores presentes nela e da interação entre eles.
Nos 35 anos seguintes, o artigo de Mendel parecia fadado ao esquecimento. Ele só seria redescoberto – pelo menos é o que diz a lenda – no dia 6 de maio de 1900. O autor da proeza foi o biólogo inglês William Bateson que leu o texto em um vagão de trem que fazia o percurso Cambridge–Londres.
Chocado e encantado, Bateson percebeu que o trabalho feito por Mendel há mais de três décadas confirmava o que ele, Bateson, estava fazendo e também o trabalho recém-publicado pelos cientistas Carl Correns, Hugo De Vries e Erich Tschermak von Seysenegg. Todos haviam chegado à mesma conclusão: as leis da hereditariedade existiam e valiam não apenas para ervilhas, mas para outras plantas também.
A leitura do texto de Mendel por Bateson mudou o rumo da história e levou este último a mudar o discurso que faria na Sociedade Real de Horticultura, dedicado originalmente a De Vries. Resolveu falar da experiência de Mendel e disse:

“A determinação exata das leis da hereditariedade irá provavelmente mudar a visão do homem sobre o mundo e sua influência sobre a natureza mais do que qualquer outro avanço no conhecimento da natureza”.

Nos anos seguintes, Bateson dedicou-se a provar que a lei da hereditariedade de Mendel valia também para animais e cunhou a palavra “genética” – e grande parte do vocabulário utilizado pelos geneticistas até hoje. Devido a seu trabalho, Bateson se tornou o primeiro professor da história a ocupar uma cadeira de genética em uma universidade, a de Cambridge. Mas Bateson e os cientistas de sua geração não conseguiram resolver uma questão crucial da hereditariedade: qual era a molécula responsável por ela. A descoberta aconteceu apenas em meados do século XX, em 1944, pelas mãos do médico americano Oswald Theodore Avery em conjunto com um colega de laboratório, Maclyn McCarty, e um ex-colaborador, Colin MacLeod. A tal molécula, mostraram eles, ao menos em bactérias, era o DNA, o ácido desoxirribonucleico.



Para fazer a famosa experiência das ervilhas, Gregor Mendel cruzou, primeiramente, sementes de ervilhas lisas e rugosas. Em ambos os casos, as ervilhas tinham características puras, ou seja, as lisas eram “AA” – produziam apenas gametas “A”, e as rugosas “aa” apenas gametas “a”. Mendel batizou essas ervilhas utilizadas de “geração p” (“Parental”).
Os filhos desse primeiro cruzamento eram 100% “Aa” e tinham sementes lisas. Essa geração foi chamada de “F1”.
Ao autofecundar as sementes de F1, Mendel obteve a geração “F2”. Nela, 75% das sementes saíram lisas e 25% rugosas. O monge repetiu essa sequência de cruzamento por mais quatro gerações. Com os resultados em mãos, ele deduziu que a característica “A” era dominante e “a” podia ser chamada de recessiva.
Mendel chegou a essa conclusão porque em F1 todas as sementes eram lisas, mas em F2 havia também as rugosas, sugerindo que a característica rugosa estava presente em F1, embora não aparecesse fisicamente. Dessa maneira, o monge concluiu que a geração F1 era formada de plantas híbridas (“Aa”), ou seja, havia herdado dos genitores um fator liso e outro rugoso. Mas como a característica lisa era predominante em relação à rugosa, somente a primeira havia aparecido fisicamente.
Com isso, Mendel conseguiu afirmar que cada ervilha continha duas cópias de cada gene (de fator liso ou rugoso) e herdava de cada genitor uma delas de forma independente e ao acaso. Anos mais tarde, essas cópias foram batizadas de alelos.

Fonte: Curso sobre Biotecnologia que tenho feito.

17 de jul. de 2011

Hepatite A - Parte III

Hepatite A - Parte III
"Formas Clínicas da Hepatite A"


A hepatite A ocorre como infecção esporádica, endêmica ou epidêmica e as formas clínicas de presentação são semelhantes, independentes de condições geográficas ou raciais. Nas formas esporádicas a idade é muito variável, ocorrendo em crianças e adultos e, especialmente, em regiões não endêmicas. Nas formas epidêmicas as crianças são mais atingidas nas regiões endêmicas, mas é mais freqüente em jovens e adultos nas regiões não endêmicas.
Em qualquer circunstância a infecção com o vírus da hepatite A pode resultar em infecção assintomática, infecção sintomática (oligossintomática) anictérica ou em infecção sintomática ictérica. Formas assintomáticas e sintomáticas anictéricas são comuns em crianças nas regiões endêmicas. Nessas regiões as crianças tem proteção dos anticorpos maternos até os 8 meses de idade e, a partir daí, a maioria se infectará até os cinco anos de idade. Essas infecções são na sua grande maioria assintomáticas ou oligosintomáticas anictéricas. A freqüência de casos assintomáticos e anictéricos após a infecção não é bem conhecida. Estudos cuidadosos de surtos epidêmicos de hepatite transmitida por alimentos mostraram 14% de casos assintomáticos e 30% de casos anictéricos (relação aproximada de 1:3,3). A relação de casos anictéricos para os ictéricos é menor nas crianças. De fato, um estudo de epidemia em uma comunidade religiosa, onde os expostos eram todos abaixo de 20 anos de idade, a relação de anictéricos para ictéricos foi de 7,5:156. O aparecimento de doentes entre comunicantes de uma família é pequeno entre crianças abaixo dos 3 anos de idade, com o mesmo risco de infecção. A menor freqüência de adultos doentes nessas condições reflete mais a imunidade existente nesse grupo do que a ocorrência de infecção assintomática.
As manifestações clínicas da forma sintomática ictérica aparecem de duas a sete semanas após a infecção (período de incubação), com média de 30 dias. As manifestações prodrômicas podem durar de dois a quinze dias, e em raros casos não são relatadas. Nesses casos a doença se manifesta diretamente pela icterícia. Essas manifestações são indistinguíveis daquelas que ocorrem em outras infecções viróticas e, se a doença for anictérica, o diagnóstico só será feito através da constatação da elevação das enzimas séricas. A medida que a icterícia se instala os sintomas e sinais prodrômicos melhoram e desaparecem.
A duração aproximada da icterícia, dos sinais e sintomas, da eliminação de vírus nas fezes e da viremia está resumida na Figura 5.

A icterícia, geralmente precedida pelo relato de urina escura, aparece de dois a quinze dias após as manifestações prodrômicas. A duração da icterícia é variável, alguns relatando média de 7 dias (4 a 22 dias em uma série de casos), mas extensão da icterícia por períodos médios maiores foi relatada em outras séries de casos . Além de mais freqüente, a icterícia nos adultos tem duração maior. As taxas séricas de bilirrubina são variáveis, e média de 6,7g/dL foi relatada em série de casos, todos ictéricos, em New York30. Dos sinais, a hepatomegalia discreta e sensível, é o mais freqüente, aparecendo em 85% dos casos enquanto a esplenomegalia e a linfoadenomagalia são menos comuns (15% dos casos).
A evolução da hepatite A é de modo geral muito boa, terminando com a cura na grande maioria de casos, mesmo nas formas mais atípicas. A mortalidade mostra-se baixa em jovens, aumentando muito se a doença é adquirida a partir da quarta década da vida. A duração da doença revela-se variável, com média de 15 dias em algumas observações bem controladas, mas com predomínio de crianças. Na série de casos da Universidade de Yale (infecção em voluntários) a duração da doença variou de 7 a 87 dias com média de 30 dias. Não têm sido relatadas complicações mais graves durante a gravidez e a evolução da doença parece não se alterar se a infecção é concomitante com a síndrome da imunodeficiência adquirida. A recorrência ou recidiva da hepatite A mostra-se rara (3 de 200 pacientes na série descrita por Havens na Argentina e diagnosticados na Califórnia entre 1985-9476 ). O diagnóstico de recidiva deve ser feito com reserva, sendo necessário eliminar a possibilidade de infecção com outro vírus hepatotrópico. A detecção do vírus nas fezes por técnicas de hibridização ou imuno-microscopiaeletrônica confirma a recidiva. O quadro clínico da doença na recidiva geralmente não difere daquele da doença inicial, mas há tendência a maior colestase. Uma forma prolongada da hepatite A tem sido relatada, com duração dos sintomas (icterícia) por até 120 dias. Em série de casos de uma epidemia na Califórnia, o curso prolongado, acima de 14 semanas foi observado em 11/130 casos. Nesses casos a biópsia hepática mostrou inflamação portal, necrose periportal em saca-bocados, focos necro-inflamatórios intra-lobulares e moderado grau de fibrose. Todos os pacientes apresentaram normalização dos testes bioquímicos até o quinto mês de evolução.
Não é incomum que pacientes que tiveram hepatite A prolongada venham a se queixar de fadiga por um período de até um ano após o desaparecimento dos sintomas. Algumas observações têm mostrado que nas formas prolongadas da hepatite A pode existir excreção persistente do vírus, razão pela qual os pacientes nessa situação devem ser considerados como potenciais transmissores. Uma forma colestática de hepatite A tem sido descrita. Essa forma se caracteriza por níveis elevados de bilirrubina, prurido acentuado, diarréia, má absorção intestinal e perda de peso. A resolução espontânea constitui a regra, sem necessidade de intervenção medicamentosa. As formas colestáticas tendem a se prolongar.
A forma fulminante da hepatite A não é freqüente. Nos países desenvolvidos a insuficiência hepática aguda por hepatite A mostra-se rara, sendo mais freqüente em adultos do que em crianças, tendo sido observada em 20/295 casos relatados em estudo retrospectivo recente nos Estados Unidos68. Nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos a freqüência de insuficiência hepática aguda em crianças, decorrente de formas agudas de hepatite A revela-se mais comum, representando mais de 50% dos casos no Chile, Argentina e Paquistão. Em nosso meio existe apenas um relato sobre insuficiência hepática aguda em crianças atendidas em Hospital pediátrico de Vitória, ES, onde anticorpos IgM anti-vírus da hepatite A estavam presentes em 70% de 46 casos. A mortalidade entre todos os casos de hepatite A é baixa, aproximando-se de 1,5% de todos os casos ictéricos internados nos Estados Unidos (381 mortes entre cerca de 30000 casos hospitalizados no período 1983-1987) A idade é fator importante, sendo maior a mortalidade entre adultos acima de 40 anos.

Fatores de Risco para Hepatite A Fulminante:Não são conhecidos, mas algumas observações têm mostrado que pacientes com doença hepática crônica tem maior risco36. Por essa razão recomenda-se a vacinação para esses pacientes, se não foram expostos ao vírus. Maior freqüência de formas graves de hepatite A em pacientes com infecção pelo vírus C relatada por alguns autores, especialmente na Itália, não foram confirmadas em outras observações.

Formas Crônicas da Hepatite A:
Se existem, são raras. Há relato de paciente com enzimas persistentemente elevadas e eliminação de vírus nas fezes por períodos de 11 meses, apresentando inflamação portal, com necrose periportal e fibrose. Aos 25 meses, o paciente desenvolveu varizes esofageanas e apresentava IgM anti-VHA aos 31 meses após o inicio da doença. Nesse caso, ainda que relatado como hepatite A crônica, pode ter havido uma hepatite A prolongada, com superposição de outra doença hepática crônica. O fato de ter havido detecção de IgM anti-VHA tardiamente não se refere à cronicidade, pois tal fato tem sido relatado até 30 meses após o início da doença aguda, quando pesquisado com métodos mais precisos e com diluições menores do soro. Uma doença hepática crônica pode seguir uma hepatite aguda A, mas sem relação direta com essa infecção. Há poucos relatos de desencadeamento de hepatite auto-imune após hepatite aguda A, sendo que muitas vezes o que existe é a superposição das duas doenças.